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Textos

Tempo
por Isabel Sanson Portella- curatora, Galeria Amarelo Negro, Rio de Janeiro, Brasil -2013]
 

Livearth
por Alberto Saraiva- artista e curator doCentro Cultural Oi Futuro, Rio de Janeiro, Brasil -2008]

 

Pulsar
por Alberto Saraiva- artistae curator doCentro Cultural Oi Futuro, Rio de Janeiro, Brasil -2005]

Estado de Atividade Funcional


por Reynaldo Roels Jr. - crítico e diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil -2005]

 

Imagens Nômades
por Luis Ernesto - artista e diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil -1998]

TEMPO

 

exposição Galeria Amarelo Negro, agosto 2013

 
Para não matar seu tempo, imaginou:
vivê-lo enquanto ele ocorre, ao vivo;
no instante finíssimo em que ocorre,
em ponta de agulha e porém acessível;
viver seu tempo: para o que ir viver
num deserto literal ou de alpendres;
em ermos, que não distraiam de viver
a agulha de um só instante, plenamente.

Habitar o tempo
João Cabral de Melo Neto
 

 

Habitante de seu tempo, Tina Velho vem realizando trabalhos e experimentos a partir de tecnologias digitais de transmissão de imagens ao vivo geradas pelo sistema cada vez maior de câmeras de vigilância pública espalhadas pelo mundo. Tina multiplica e se apropria da tecnologia, transformando imagens em desenhos, vídeos, pinturas e performances. Sua sensibilidade artística busca o instante, o agora. O mesmo tempo que corre incessantemente, pode ser parado num movimento técnico, aprisionado numa imagem congelada para ser manipulado. Uma outra contagem, não mais minutos ou segundos, se estabelece para marcar a passagem, a mudança, o significante.

É o tempo fragmentado, o momento captado e transformado que interessa.

Dentro de cada um de nós existe uma noção de tempo, única e pessoal, e é com essa percepção que a artista brinca e interage. Observadores anônimos, vemos a vida passar através de imagens e momentos que não nos pertencem. São sucessões de instantâneos que invadem nossa consciência, criam uma nova dimensão espacial e nos transportam para lugares às vezes inatingíveis.

Tina se apossa do tempo, do momento particular e encarna o espírito da flânerie do século XIX. Navega solitária pela internet escolhendo pontos distantes da cidade do Rio de Janeiro, assim como o flâneur de Baudelaire caminhava por Paris. Vai ao espaço, a praias na Tailândia, observa ninhos de águias em alguma cidade dos EUA, enfim, vai aonde tiver uma câmera de vigilância conectada à internet. Nem o céu é limite!!!

Baudelaire, no poema “A uma passante”, observa uma mulher que passa. Ela representa algo inacessível, que só pode ser percebido “no tempo de um relâmpago”. É esse o tempo suficiente para obter uma imagem que será observada e modificada em outro espaço, num outro tempo. São indivíduos na rua, à noite, num vagão de metrô ou numa praia, encontros e desencontros de pessoas que trocam olhares e/ou são observadas. Tina quer justamente esse tempo relâmpago, esse flash de segundos quando nem sabemos que estamos sendo vistos. Como um voyeur, escolhe cuidadosamente seus objetos de desejo. Depois apreende, imprime, projeta, desenha, pinta. Submete a imagem à sua marca, com arte e criatividade, redimensionando a realidade de tempos e lugares. Questões de limite e distâncias, de tempo e espaço, de olhar e controle são evidentes em suas obras. Para Tina Velho o tempo transcorre articulado e organizado, “como uma sucessão de instantaneidades ou de imobilidades”. A vigilância diária obriga o olhar a se refinar, escolher apenas o que interessa, como alvo. E com delicadeza suprema, tratar esse objeto que será traduzido em arte. A experiência da realidade modificada vai, enfim, criar no observador uma nova consciência interior. Surge a angustia da constatação de possibilidades que podem revirar todas as nossas certezas. Um dia passa a ter 45 minutos, do amanhecer ao entardecer. Pessoas e lugares, dias e noites se cruzam num fluxo continuo. Existe, pairando sobre toda a obra de Tina, um olhar vigilante, controlador e onipresente. Porém sua arte estabelece uma relação emocionada com tempo/espaço, resultando numa criação sensível e libertadora.

 

Isabel Sanson Portella
Agosto 2013

 

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